Olhei ao alto e sorri de contente, Pois que, finalmente, Tinha-se estendido o tapete E não iria tardar a chuva, Após um Verão tão diferente; Os campos seriam alimentados, Após irrigação tão demorada… Era um voltar a ter esperança. Em toda esta mudança, É ver pássaros atrapalhados, Com tal água bem mandada… Se a terra, solta, a reclamava, Melhor o infinito a enviava E toda a natureza agradecia, O que há tanto se pedia E num frenesim delirante… Seria um festejo de ora avante, Nesta terra que encharcava. ... Tudo corre, minha gente, Uns para trás, outros pra frente, Sem guarda-chuva que aguente… E além da vista alcançada, Vai-se ouvindo a trovoada, Em chuva a cântaros, entornada, Num verdadeiro tudo, ou nada. ... Eu espreito da janela, Este cenário de repente E a mim não chegará ela!
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Somos gente acomodada E pessoas de pouca força, Dormindo, de mal acordada E sem que alguém por nós torça. Somos aquilo que merecemos, Por tanta falta de orgulho E tanto ao fundo descemos, Nesta tristeza e barulho. Vivendo cada dia à rasca, Sem a vontade para lutar, Passando o tempo na tasca, Ou por casa e a lamentar. Esperamos um Sebastião E que nos venha para salvar, Esperando, nesta confusão, Na calma e no deixa andar. Somos esse povo tão feliz, Diz o Governo e com razão, Pois se é ele quem nos o diz, Nem há direito a discussão. Dancem e saltem, de contentes, Pois que a vida são dois dias E com promessas e foguetes, Te convencem do que querias. Neste andar de mortos-vivos, Vamos seguindo o caminho, Adorando ser enganados, Com estaladas no focinho... Acordem, que chegou a hora, Deem coices, basta de festas, Ao que, por esse mundo fora, Há quem vos alcunhe de bestas! Essas mentes engravatadas, Que vos iludem a preceito, Comem-vos as veias sugadas E despojam o vosso leito. Ai, almas lentas e penadas E já sem rumo para a vida, Deixem de ser almas mandadas, À espera da despedida!...
Com a aproximação das eleições no Brasil, ainda não consegui entender qual a preocupação quanto ao Bolsonaro, no que diz respeito aos brasileiros, portugueses e restante do mundo. Todos, – ou quase todos, pagando o justo pelo pecador! –, só pensavam em samba, cachaça e Carnaval; enfim, "curtir" e, pela mesma ordem de ideias, todos compravam viagens para o Brasil! Tal como em Portugal, foi o deixa andar, escancarando as portas à corrupção, no geral, mas o importante era viver e depois logo se veria... Semearam ventos e colheram tempestades e Portugal vai comer por tabela: esperem pela pancada! Não se admirem se, quando menos esperarem, aparecerem uns Bolsonaro(s), entrando pela mesma razão e porta, pois que, agora, pouco importa, havendo que gozar o momento... Depois gritam e batem com a mão no peito, porque Deus está, – onde estiver e para quem acreditar! –, lá em cima, para proteger os nossos pecados e estupidezes. Cada um tem aquilo que merece, com todo o respeito ao povo brasileiro e aviso aos portugueses, que mais deveriam fazer e por as barbas de molho...
Somos filhos de fantasmas E fantasmas não têm paz, Deambulando pelas ruas, Cada qual no que é capaz. Somos armas, somos vítimas, Somos o que mais quisermos, Almas penadas, malditas E presos no que fizermos... Amordaçados nas acções E naquilo que dissermos, Se não procurarmos razões Para a vida a que nascemos. Presos ossos por arames E cangalheiros por conta, Aguentando vexames, Olhados de pouca monta; Somos almas que não contam E nos tempos que advêm, Pensamentos que estorvam, Nas palavras que contêm... Somos tudo e sendo nada, Se nunca fizermos por tal, ... Triste rota malfadada, Deste enfermo Portugal; Passeantes mortos-vivos, Bem estatelados e ao Sol, Como o Diabo e sabidos, Mas com penhoras no seu rol... Amanhã é mais um dia E não importa o que seja!... Há que esquecer a azia!... Que nos sirvam de bandeja!
Há um tempo para amar E o momento para odiar... Há um outro para salvar E quantos para matar... Há um tempo para tudo E nesta merda de mundo; Pois basta de tanto cagar, No que andamos a lavar... Vamos ter que dar a volta Ao que nos bateu à porta, Batalhas a nosso sumpto E por tal jardim corrupto... Chegou o tempo de lutar, Toda a verdade espalhar, Tal podridão escorraçar... E que não ousem regressar! Eis chegado o momento, De fazer um julgamento, Depois de tanta fartura E tal abjecção que dura... Há que depenar abutres E outros que tanto futres, Triturando tais serpentes E rasgadas pelos ventres... Mordidas no seu veneno E fritas no meio de feno, Na honra a que merecem E enquanto ninhos ardem... Que podre espécime este, Que sendo tão diferente, Tanto e mais, é parasita, Nas frases que regurgita!... E mais parecendo santos, Em promessas e encantos, Por entre vidas de prantos E por tanto ficando fartos... E esse tempo já é demais, Chega de lobos e chacais!... E é momento que findou, Na revolta que começou!...
Derrapando pelo mais imprevisto, Abrindo alas por opacos caminhos, Escolhem rotas ao que nunca visto E cada qual persegue pergaminhos... No cimo das escarpas, o leão ruge, Ao longe, chacais e coiotes, uivam, Enquanto os morcegos se achegam E as corujas mostram de sabedoria, Mas que muito pouco isso lhes vale, Tantos os asnos que calcam o vale... As águas correm e levam caminho, Por escuridão de tanta harmonia, E coitado do bicho que fale fininho E de fraco e sem força, nem muge... Sopram os ventos e vindos de suão, Enganando cata-ventos por Norte E rodando ao que lhe vem à mão, Pois qual direcção não lhe é sorte. Eis as hienas e que se aproximam, Esfomeadas, vorazes pela comida E desgraçado quem se lhes cruze, Tal a avidez em tanto desmedida... Batuca a ressonância do primata, Num agitar o peito e que gritam, Dando o sinal duma seita já farta E que, adiposos, demais nos luze. Até o insecto lhes serve de pasto, Saciando gulas a quem mais forte E bastando um dia mais nefasto E quem a sua sina nada importe... Eis a triste lei pela sobrevivência, Tal a selva urbana desmesurada E em que pouco resta da ciência, Num universo de tanta dentada E salve-se o quem demais burro, Sem o direito ao menor sussurro, Pois que tal lugar é dos espertos E outros quantos tão encobertos...