As palavras são lâminas, setas acutilantes, Que cortam, ferem e rasgam conceitos, Mesmo quando livres de defeitos, Ao qual, após ditas, nada fica como dantes. São cutelos, adagas, que penetram e marcam, Fazem sangrar, na verdade e purgam Naquilo que ninguém quer ouvir, Sendo negado o quanto é de ferir... São preferidas as falsidades, Doendo quantas as verdades, Neste mundo de credíveis contradições, Paraíso de perfeitas e compradas ilusões. As verdadeiras palavras, são pedras, Que ninguém enxerga, ou quer aceitar, Preferindo a poeira, lançada às vistas Em simulado e quanto bem-falar... No entanto, a falsidade é ácido que corrói, Enquanto e ironicamente, a verdade dói, Nalgum formatar de sistemáticas vidas E mais que, erradamente, assumidas; É como machado, caído pela cabeça, Que, enquanto por alguns rejeitado, Noutros entrando, como terrível doença, Paralisia de quem, a tal, vai adormecendo... Falsas palavras e argumentos, São iscos, com os quais se vai pescando, Sem quaisquer que sejam os sentimentos E, de envenenado peixe, o balde se vai enchendo, Lançado, seguidamente, ao mar, Em constante envenenar E alimentando os tubarões, Sem se separar o veneno e as razões... Não entender a verdade, é hipocrisia, arrogância, É não saber distinguir entre o culto e a ignorância, Não agradecer o teclar, o lápis, a esfera, a pena e aparo, O papel, o mais diverso monitor, a ardósia e o singelo giz, Na escrita de quantos nos chamam à razão, num reparo E não tomar conta ao que inteligente burro nos diz!...
Há quem não meça o tempo, Em quanto espaço percorrido, Perdem-se na sementeira e no campo, Por cada momento perdido... Pensam que a vida é eterna, Assobiando ao vento Que os empurra e abandona E sem qualquer lamento... Ai, esse espaço que não volta mais, Tantas vezes nos piores caminhos E que, erradamente, deixais Que ele vos deixe sozinhos!... O tempo será tão passado Quando acordarem de vez, E nunca mais encontrado O que não fizeram, talvez... Não fazendo de qualquer jeito, Ao que vos ditar a cabeça, Fazendo o que tem que ser feito, Antes que a vida adormeça... O tempo, perde-se ao longe!... Não se metam no convento, Se não se vestirem de monge... Aproveitem cada momento!... Busquem, em paz, o alento Que vos alimentará o espírito, Pois nem só a comida é sustento... Soltem, livres, esse vosso grito!...
Hoje apeteceu-me um desvario pelo teatro, Percorrer os bastidores e farejando o oculto, Observar toda a arte, na penumbra e perto... Perceber aquilo que nem sequer sonhamos, Em quanto o que fica demasiado encoberto. Quero entender toda a técnica carnavalesca, Aquelas máscaras e nunca vistas pelo vulto, De tão encenadas, naquilo que observamos... E fico deslumbrado, furibundo, estupefacto, No que vou descobrindo, em argumentado E soberbo, estudado texto, em pouco sacro, Tanta alma e tão profundamente encenado, Desde o primeiro, ao acutilante último acto, Em controversas entradas e saídas de palco E atónita plateia, por tal conceito empírico.... Perfeita renovação de velha cena dantesca. Desiludido, recuso os bastidores e caminho, Precipitando-me às escadas que daí descem, Deixando-as para trás, na mínima saudade, Rumando pelas ruas adjacentes e sozinho, Reflectindo no que vi e na menor vontade De voltar, pois tais artes não me merecem, Tal como os actores em palco e envolventes, De sombrias máscaras enfiadas e dementes, Nesse disfarce genuíno, com que cresceram, Camaleónicas figuras, pinceladas na pressa, De mentes sem escrúpulos e reles conversa, Que não me metendo medo, me repugnam E para os quais necessito de deixar de olhar, Mesmo que pela frente deste teatro passar, Nem dar ouvidos, sempre que algum palrar E para nunca correr o risco de os esconjurar... Questiono se será o santo que não merece, Ou se o palácio, no que lá dentro acontece?
Sedução, é mais que o momento, É falar com o corpo, nesse olhar, O subir da adrenalina, transpirar, Fazer sobressair ao pensamento, No que para alguns é disparate E para outros luxúria, feita arte. É o simular que se olha de frente E com o sentido dirigido ao lado, Hilariantes olhares penetrantes, Traquinos corações, palpitantes E percorrendo de cima a baixo, A tais inquietudes desafiantes, Em quantas vezes alarmantes... Àquele corpo a que me deixo, Levar, por recantos da mente E na mais bela escrita de fado. É, nessa doce arte da sedução, Que entramos em contramão E a que nunca mais paramos, Levando por vielas de paixão, Mortificações de doce solidão, Esquecidos para onde vamos E sem questionar a direcção, Em quantos acenar de mão... Derrapamos, em tais curvas, Esquecendo qualquer freio, Por quantas avenidas turvas E sem condições pelo meio... Mas encanta-nos essa parte, Essa arte e em tanta euforia, Que descemos aos infernos, Por entre paraísos dos céus, Em cantos de lábios escarlate, Harpas tocadas em sinfonia, Por mãos de celestiais anjos, Líricos arranjos, feitos meus...
Diga-se o que mais se disser E pensemos o que se pensar, Este é um mundo de conflitos, Embriagado numa confusão, Dando-se ditos por não ditos, Na mentira, aclamada razão E que andamos a comungar, Esteja quem e onde estiver... Mesmo afogado e em agonia, Nestas guerras de interesses, Em falsidades, ou arrogância, O mundo pode ser mudado, Se o homem seguir o recado, Tantas outras vezes deixado, Tanto que é demasiado belo E que muitas vezes esqueces… E, desta forma excomungado, Um destes dias vais perdê-lo! Mesmo nas mais contradições, Guerras de poder, ou religiões, Ele continua a ser maravilhoso E a quanta protecção desejoso…
Como gostaria de fazer tudo no presente, Sem nada deixar para depois, Abraçando o mundo a dois, Liberto, na enorme força do momento, Tal poesia em paragens de autocarro, Fluindo atrás do pensamento... Procurando por ondulados espaços, Cruzamento de estendidos braços E em cada esquina espreitar, No reboliço das descobertas... Deitar-me no chão, namorando a Lua, Seguir Zodíaco ao longo das estrelas, Sem importar qual delas... Dar teu nome a cada rua, Oferecendo-te esta cidade, que é tua, Mesmo que a horas desertas, Acordando para o que me despertas, Aquando ainda adormecida e nua... E, como mortalha de cigarro, Em minhas mãos, semiabertas, Enrolar-te, até onde a vontade chegar... Confesso ao que despertar a mente.