O tempo é feito de alternâncias, Na mais moral filosofia de vida, Num percurso de circunstâncias, Nalguma vitória a ser cumprida, Na escolha a que somos eleitos, Por sonhos, mesmo que frágeis E sem demasiados preconceitos, Mas que, a tal vida, sejam ágeis... Precisas e saudáveis mudanças, Engrenagem por tais percursos, Sonhos às possíveis esperanças E longe de quaisquer discursos Pelo que nos proponham fazer, Tanto que o imprevisto é arte, Símbolo de qual melhor saber, Que de qualquer um faz parte... Bastando e não mais, meditar, Sentado num qualquer banco, Apanhando tudo no seu olhar E sendo o íntimo o mais franco, Sem injúrias nos pensamentos, Jugos para além dos contextos E prisioneiros a tais momentos, Doutrina dos mais divinos textos... O tempo corre e nunca se cansa, Galopa, como cavalo de guerra, Impetuoso, que não se amansa, Que nos afasta dele, a tal serra E que nos encanta numa dança, Que a cada esquina nos espera E sempre luz de alguma criança, Mas louco monstro e feito fera... O tempo é irmão deste mundo, Em luta, braço dado, contra nós, Nalgum tão desprezo profundo, Que, num decorrer, ficamos sós, Perdidos e deixados à sua beira, Traídos no espaço e acompanho E, às vezes, sem beira nem eira, Em profundo desgosto tamanho... E em que nem tudo são espinhos, Por tais jardins e de tantas rosas, Que pelo meio de tantos sonhos, Ficarão tantos versos, ou prosas, Que tornarão o mais suave breu, Esses atalhos, de montes e vales, Por infernos e neste rumo meu, Numa luz e voz, de que me fales... Neste sangue e quantas as dores, Nalguma constante e alma solta, Amassando ódios e feito amores, Escravo de uma enorme revolta, Livre e de corpo frente ao vento, De pé, caminhando, ou de mota, Numa paz fictícia e meu sustento, Mais forte se tornou minha luta...
Gosto do consciente da subconsciência, Saber o que mais ninguém ousa saber E tanto menos interessa que saibamos, Na ignorância e acto em que nascemos; Pesquisar por entre lógica e sapiência, Servindo-me da mais pura inteligência, Numa meditada e mais sábia paciência. Gosto de divagar pelo berço do tribunal, De aprender num julgamento de teatro, Perdendo-me pelo espaço do clássico, Pela sabedoria de tal Grécia e imortal, Imaginando-me no distante Jurássico E trazendo quanto houver a aprender, Afastado deste contemporâneo fatal, A que tudo parece de perfeito e banal E dia para dia num mais negro quadro. Gosto de sobreviver por este meu viver E sabendo que me apontam os dedos, De me rir, quando os vejo nalgum ver, Sabendo que mais são seus degredos... Esqueço-me da mais ínfima relutância, No orgulho e quanta minha consciência, Que quase perdoo toda essa ignorância, Egoísmo, malvadez e demais evidência.
Somos a escuridão no meio de tanta luz, O matraquear por entre tanto silêncio, A vida que se faz tarde e demais perdida, Uma imperdoável nódoa no imaculado. De tanto querermos ser, já nada somos, Comparados para aquilo que nascemos, Perversos destruidores de qualquer vida, Nada preservando do que nos foi doado, Senhores de uma Terra em tal renuncio E que, por arrogância, já nada nos seduz. Somos os juízes, condenando o planeta, Agarrados a leis que só ousam destruir, Explorando o Universo, qual proxeneta E em que tão-pouco o sabendo seduzir. Somos a vela necessária, sem fósforos, Num túnel precipitado nalgum abismo, Obscuros e irreversíveis desfiladeiros, Em tracejado e destino do pior cismo. Somos um templo construído de areia, Numa qualquer praia, em maré-cheia, Enquanto se olha ao longe, na demora, Sem perceber de que já chegou a hora. Façam-se juízos e cálculos, sem limites, Sem nunca esquecer a prova dos noves, Encham as paredes com alguns grafites, Mas salvem este Universo e suas naves...
Quero-me rir, Numa violação total dos sentidos, Gritar, arfar, explodir, Perceber o quanto, na vida, Somos o excesso do que vivemos, Chafurdando no que fazemos... Só não quero ser fodido, Por quantos ao redor circulam E fazendo-se de oferecidos, Naquilo que não comungam. Não me digam o que fazer, No meio de tanto mugido, Sendo o melhor calarem-se, Pois, com a cabeça a arder, Fumegando, de fodida, O melhor é afastarem-se!...
Que se amordacem os poetas, Assim como os prosadores... Que se adormeçam os mentores! Que se morra no silêncio, Que se paralisem os atletas, Em vassalagem aos políticos E quantos os seus odores... Que não seja o fim, neste início, De aniquilar os corruptos, De enclausurar os agiotas, Juntando-os aos proxenetas E quantos outros malfeitores... Que se enforquem os charlatões E todos os demais ladrões, Que seja feita justiça, No meio de tanta injustiça! Que se acorde de tanta preguiça E se sustentem revoluções, Se faça julgamento e sentença, Nessa fileira de aldrabões...
Este paraíso, à beira-mar plantado, Nem é preto e branco, nem a cores, É um território pintado de cinzento, Em que de cor só sustenta as dores, Prisioneiro de um terrível lamento... E, de preto, só se vestindo de luto, De tremendo funeral a seu estatuto. É céu, terreno, mar e amordaçado, Num povo deveras acomodado E que grita, aos céus, estar cansado... É chulice de quantos nos exploram, Nos vomitam, no pouco que temos, Exclamando o quanto nos adoram, Enquanto burros naquilo que demos. Este canto é uma imagem latente, Que só abrirá os olhos, de repente E quando mais nada houver a fazer... E sonhando, neste doentio prazer!
Em noite de barriga cheia, Uivam os lobos de fartos; Nesse covil, em seus recatos, Organizam-se com os coiotes, Fazendo grandes banquetes, Com outras feras de longe... Juntam-se em hilariantes magotes, Em festejos de foguetes, Havendo aquele que muge, Enquanto alguém o premeia... É mais um aos que já tem!... Até os grifos são convidados, Para os restos abençoados! Mais abaixo, junto ao cais, Os cordeiros atiram-se ao mar, Afogados nos seus ais E no medo do que aí vem, Sem saber no que vai dar... No meio de tanta algazarra, Prepara-se o melhor festim, É ver quem mais agarra E o que sobra para mim... De certo que não serei servido E muito menos comido... De tão rijo, até nos ossos, Já não alimento tais bichos!