O mar bebe, do rio, Lágrimas de quando rio, Quantas de Carnaval, Em danças de madrigal... Tanto seja no Outono, Acordado, ou num sono, Seja em tempo de Estio, Ou tremendo de frio... Em ventos de Primavera E todo o mundo à espera, Sonhando novos odores, Prados de outros sabores... E esse rio vai correndo, Com a esperança morrendo, Onde irá desaguar Estas lágrimas e em que mar...
Sou tanto como qualquer um, Estrume, lançado à terra, Não chegando a lado algum, No meio de quanta guerra. Sou algo, no meio do nada, Língua pobre, mas afiada, Sou a vogal e a consoante, No meio de qual palavra, Quem sabe, um ignorante. Bom pregador, mente parva, Num discurso de bebedeira E que a muitos só estorva. Sou sopro, fruto do vento, Força de qualquer rebento, Neste berço da sociedade. Sou minha livre vontade E sem prestar vassalagem, Foge-me a boca pra verdade, Tentada nalguma mensagem. Não sou o que enche a tripa, Nem aquele que a lambe, Tampouco trapo que a limpa… Mas tu, que me olhas de lado, Não passas do monte de merda, Bosta feita de quem és gado. Sou filho de um filho da puta, Obra prima resoluta, Por entre a maior luta E que nunca pro lado chuta, Sendo que, nesta disputa, Ninguém, em nada, me escuta, Cegos, no seu pensamento E naquilo que já não sinto… Sou filosofia de esquerda, Neste mundo de opressão, Tendo por direita razão A certeza do seu descambe. Sou perseguidor do tempo, Aprendendo no passado, Aprendiz de quanto é limpo E pelo que deixo um recado: Tudo isto é uma passagem, Percurso de uma miragem E que teimas não entender… Sendo a causa do teu sofrer! Nessa demarcada altivez, Nesse ódio, essa maldade, Resta que não deixas saudade E que deixas tudo de uma vez… Ateando o fogo que no Inferno arde!
O mundo é sonho constante E que pára num instante, Sem saber o que fazer... É chama acesa permanente, Que nos queima e reclama, Nos persegue fugazmente, Nos doutrina a seu benzer E nos arremessa à lama. O mundo é uma porta secreta, Onde entra quem souber, Esteja fechada, ou aberta, Sempre pronta a quem couber; É espaço sem limite, Fonte de inspiração, Sofrimento de quem grite E explorado por qual ladrão, Filho de qualquer cabrão. O mundo é pai, é mãe, irmão, Tudo o que queiramos ser... É miséria, tristeza e fome, Sedentas bocas, sem beber, Cama suja, a quem não dorme, Guerras, buscando fortunas, Ricos sonos em cambraia, Vícios, atrás das dunas, Ao longo de qualquer praia... O mundo é arca de desilusão, A quem morre, sem ter pão!