Portas que se abrem e fecham, Dando vidas e horizontes, Ficando para trás o que deixam A meio de quaisquer pontes...
Sejam ornamentos de fachadas, Quer portas de ferro, ou madeira, Vão trancando as nossas vidas E, por vezes, da pior maneira...
Sejam elas redondas, quadradas, Rectangulares, ou ovais, tanto faz... Trancam saudades deixadas, No segredo, de um passado tão fugaz.
Às que se fecharam, outras se abriram E num melodioso contemplar do mar... Foram destinos que se cumpriram, Projectos de loucuras e verbo amar.
Como alguém já disse, pensei... só pensei! ... Nunca abandonando o não percebido, Procurando o que nunca encontrei, Na certeza que tal me era devido...
As que abri, foram para o mundo... As que encerrei, pois não eram merecidas, Fecharam-se, num silêncio profundo E derramando dor nas minhas feridas.
Nesta nostalgia e de que citações bebi, Indago, por entre altos e baixos do fado, As portas dos homens, que não percebi, Deste futuro... ao já profundo passado.
Por tantas e demasiadas portas, Por abertas passagens de vento, Ou guarnecidas de pomposas vidraças, Passa, ou fecha-se, qualquer lamento.
Junto ao mar, neste meu promontório, Escondo-me atrás de janelas idealizadas, Perdendo-me num distante ilusório, Tentando abrir portas mal fechadas...
Neste triste e frio romper da madrugada, Dorida e inesquecível manhã de Dezembro, Partiste, na serena calma, sem dizer nada, Sem tampouco te despedires de ninguém, Numa tão ingratidão que nem me lembro... Que sejas feliz, nesta longa e nova viagem, Sendo que, de ti, me restará a tua imagem E sabes o quanto valeu a pena conhecer-te, Nesse espaço da serrania em que nasceste E, vezes, impaciente, me aturaste, menino Que era, naquele feitio, sempre traquino; Mas lá seguimos lado a lado, nuns arrufos, Como se nada importasse... feitos putos E, o que me negavas, de seguida me davas, Sabendo que gostavas de mim, me amavas. Neste abandono, eu perdoo-te, podes crer, Pois que te foste serenamente, sem sofrer, Na busca do teu destino, tua merecida paz, Essa paz que só conseguiste nesse teu além E que, neste mundo, tanto mais mereceste; Assim confesso o que de melhor sou capaz: Obrigado por tudo, minha mãe... Amo-te!
Ah, como foi lindo saborear As linhas desse teu texto!... Rebuscar, no esquecimento, Bem no fundo do baú e recordar Os mais profundos sentimentos E transbordando, nas palavras, Tantos momentos passados, Em já tão longas caminhadas E percursos nas piores passadas, Mas que nos ficaram agarradas A pobres, mas belos momentos, Mergulhando nas saudades Dos nossos orgulhos, vaidades E não havendo volta a dar... Restando apenas sonhar, Voltar a esse canto do rouxinol, Mesmo por baixo da janela E nos seus cantos matinais, Esvoaçando suas asas pelos campos, Em sedutores voos madrigais E pousando em qualquer cancela, Em cânticos do melhor rol... Ah, como esse descrito foi poesia, Ao jeito de sonante melodia E composição de remate... Soberba obra de arte! Quanto te agradeço, amigo, Por toda esta minha alusão E do fundo do coração... É sonhando que o digo!
O divino é presença, na ausência do demónio, Em paraíso e férias, momento de purgatório, Neste inferno do momento, demais presente Em percursos de lama, nesta vida de repente.
A imprevisível justiça e nas maiores injustiças, Num arco, recheio de vícios, tantas preguiças, Gente perdida em deserto de areia, no nada, Gritando no desespero, tamanho malfadada.
O divino, nada mais é do que purga e banho, Bater no peito, em arrependimento tacanho E em remorsos, remissão ao impuro, pecado, Em tudo o demais a que se sente apontado...
É um tal fugir a quantas irresponsabilidades, A actos incorrectos e talhados em maldades... E o mergulhar a cabeça, chamar de profano Ao quanto mais não quer ver e por engano.
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