Nesta eutanásia à democracia, compreende-se até que ponto o sistema político está vendido, ao mesmo tempo provando a falta de cultura dos portugueses. O Partido Comunista Português, alinhando com a igreja e com a direita radical, esqueceu-se do confronto, após o 25 de Abril, com os referidos, em que se distribuía a ideia de que na União Soviética da altura e por razões ideológicas, se comiam criancinhas... pelos vistos têm memória curta, para agora se servirem de uma afirmação muito idêntica, em que, na Holanda, os "candidatos" à eutanásia se refugiam na Alemanha, a fim de não serem "condenados à morte"; pelo menos é essa a mensagem que está a ser passada... A Holanda, um país com extensos anos de cultura e democracia à nossa frente, em que o seu povo sabe o que quer e para onde vai, – santa paciência e valha-me Deus! –, vale mais chamarem-nos, directamente, porque em público já o fizeram, de estúpidos e ignorantes, o que não está muito afastado da realidade. Os portugueses, na maior parte dos casos, agarrados ao fanatismo católico, de que só Deus tem o direito a tirar a vida, partindo do princípio que foi o criador da mesma, batem mais com as mãos no peito e seguem menos os ensinamentos de Cristo, embora ser católico não significa ser cristão, o que, infelizmente, se confunde. É tempo de aprender o conceito dos princípios da eutanásia e deixarem-se de hipocrisias... Ou se criam sistemas paliativos e públicos, capazes do alívio ao sofrimento do doente e sem engordar o sistema privado, ou se dá o direito a quantos de uma morte com dignidade, no maior direito de todos: ser dono do meu destino, enquanto ser livre e senhor da minha vida, numa sociedade justa, livre e democrática... VIVA A EUTANÁSIA!!!
Eis que partem, os homens!... Ficam os cobardes, os cegos, Os surdos!... Espreguiçam-se os idiotas, Num sustento aos agiotas, Entregando tudo aos lobos. Partem os corajosos, Ficam os bobos E tantos burros!... Eis que partem, os intelectuais, Os artistas, pensadores e que tais... Partem e não voltam mais! Ficam as ervas daninhas, Partem os heróis, em lamento, Deixando rastos de lágrimas, À procura do sustento... Eis que partem, os pobres! ... Ficam os ricos e os chacais, Comendo o que já não tens; Não tens, nem nunca terás, Pois são mais os que roubam, Àquilo que tanto dás, Que aqueles que trabalham. Numa esperança tão audaz E que demais não és capaz, Olhas, ao que fica para trás E partes, nessas tuas dores, Deste berço, que chorarás!...
Suspendo-me, nalguns jardins de ilusão E num mundo que tanto me faz pensar; Sou flor murcha, em cima de um balcão, À espera de alguém, que a possa regar.
Sou arbusto, para outros erva daninha, Na sequeira de terrenos abandonados, Outras vezes em terra bem regadinha, Aguardando sementeira e teus arados.
Sou herbácea morrendo pelos cantos, Pendurada de qualquer muro e seca, Espalhada à vastidão de teus campos, Esperando uma gota de água fresca.
Refresco-me nalguns cálidos ventos, Expondo-me nalgum Sol, em delírio, Rodeado de pisadelas e sofrimentos, Por paragens de loucuras e martírio.
Sou flor da serrania, recolhida por aí, Resistência nas intempéries da vida, Tropeçando, sem saber pelo qual caí, Ao direito da melhor luz e merecida.
Sou a alma do monte, raiz de torgas, Em cores de luto e demais retorcida, A trepadeira e estendida nas corgas, De lado à pedra e melhor protegida.
Sou o cacto, sequioso e pelo deserto E nas mais lindas cores dos rebentos, A sobrevivência a quem e tão perto, Busca minha sombra e novos ventos...
Ou derradeiro dos jardins suspensos, Florindo por este tão estéril mundo, Os rebentos, seleccionados e tensos, Por entre as rochas do mais imundo...
Sou a árvore, de ressequidos galhos, Voltados ao chão, tanto esquecidos, Bom suporte a demais espantalhos, Tronco e banco, de jardins proibidos...
Serei a pétala de roseira magistral E pelo meio de adversos espinhos... Sou a mistura de cores e sem igual, De uma raseira e soar de ancinhos.
Serei o buquê de ilustre cerimónia, Lançado ao ar e por tal disputado, Serei louro e ornamento de glória, Queimado ao vento, abandonado...
Quero ser o barco ancorado Em teu cais, bem protegido, Belo iate, dando nas vistas E de casco melhor tratado, Pronto para a grande viagem, Mares adentro, recantos de sonho, Resoluto na abordagem, Olhar os picos da paisagem E com o mundo a meus pés, Por essas águas de lés a lés. Quero ser a firme âncora, Presa aos teus problemas, Fateixa de qualquer hora, Firme quilha no enfadonho E obrigando a vassalagem Os portos de todo o mundo. Quero ser paquete de luxo, De todos os teus confortos, Em cartografia de bruxo E magia de teus confrontos... Arrastar-me nas tuas areias, Deslizando às melhores ondas, Escolhendo por entre sereias, No meio de águas profundas. Quero ser o majestoso veleiro, Partindo a Sul, em cancioneiro, De velas abertas, o dia inteiro, Num azul celeste e soalheiro... Quero ser a mais bela caravela, Fazendo viagens a vida inteira, Sejam curtas, ou de cruzeiro... Dia e noite, robusto barco a vela, Tendo-te como marinheira... E Estrela Polar de marinheiro.
Corre sangue pelos teus campos, Palestina e terra mártir; Choram teus filhos, em luto, Às mãos de um invasor, Esse povo tão astuto, Pelo meio de tanta dor. Triste e esquecida nação, Que sem qualquer protecção É um povo sofredor, Às mãos de quem, sem pudor E, mesmo que se passem anos, Algum dia há-de partir. Fazem-se cegas as nações, Fecham-se às tuas razões, Encobrindo o infractor E não ouvindo o teu clamor... São interesses escondidos, À sombra de tanto dinheiro, Que tornam bem protegidos Os que matam a tempo inteiro. Pobre Palestina, nesse teu destino, Pobre povo, morto menino, À ganância de tantos loucos E cumplicidade dos moucos. Professa-se uma obra divina, Mata-se em nome de um Deus, Numa doutrina cretina E sem julgamento dos réus... Sacrificada gente, pobre Palestina, Miserável déspota, triste sina!...