Tu poderás ser o futuro, A esperança nalguma paz, A voz certa num sussurro, A expressão serena, a alma De uma arma na sua calma... Se provares do que és capaz. Serás tudo, assim o queiras E no caminho certo da razão, Luz de paz nessa tua bênção, Fermento e pão noutras seiras. Poderás ser algo de diferente, No percurso das indiferenças, Assim queiras abrir a tua mente À melhor selecção das diferenças. ... Rasga as entranhas noutro ser, Noutro pensamento de tudo ver, Percebendo o plural à tua volta, Na melodia certa de corda solta, Bastando outra diferente afinação E que alguém a oiça com atenção... Poderás não ser o total do importante, Mas serás, certamente, o princípio De outro momento e doravante Tudo será a diferença do início...
Enquanto houver um filho da luta, O mundo não será indiferente A quem nada tem de seu... Poderás ter partido, Mas a tua força não morreu Para quantos te dão valor reconhecido, Que não tiveram tudo de mão beijada E, além da esperança, donos de nada. Em qualquer recanto do mundo Onde exista miséria humana e exploração, Onde o poder seja disputa, Tu lá estarás, num grito guerreiro profundo, Na tua voz da razão ... E serás sempre o comandante! Tu serás, na Terra, o Sol da bravura, O médico a tempo inteiro E à cama de tanta dor, Água fresca nalguma secura, A chama que molda o ferro, O banho que tempera o aço, A força que a mim quero, A luz ao fundo do corredor, Lágrimas nalgum regaço... O guerreiro, o pulso do guerrilheiro! ... O mundo, será Santa Clara E tu o heróico Che Guevara!!!
Não sei se é tempestade de filantropia, Ou se um grito, no meio de tanta agonia, Mas sei, -se sei!-, no meio de tanta peia Há esta tristeza, que me fustiga a ideia.
São tantas as vozes, quantos os prantos Espalhados ao vento, semeados conflitos Derramados por campos, cobertos de gritos E bombas caídas do céu, sobre anjos aflitos.
É neste perfeito drama de Dante, esta obra Ainda mais perfeita que toda a imperfeição, Pois tal é arte do homem e à sua dimensão.
De todas as peças perfeitas e a tal manobra, São os restos da desfeita carne para canhão, Que a besta vende, devora sem compaixão.
Se eu pudesse voar os céus, Argonauta de passarola, Levava comigo o mundo, Todos os pássaros de gaiola, Dos mais belos sonhos meus E lindas flores na sacola, Olhando a pique e profundo, Nestes remorsos, também teus, Todo o pobre que pede esmola E tão pouco recebe de Deus... Bateria à porta do Céu, Na maior da penitência, Mirando, de esguelha, o Inferno, Nesta minha sapiência, Na humilde qualidade de réu E na lei em que me condeno. Se eu pudesse, levar-te-ia comigo, Mesmo atulhado de pecados, Tanto que és meu amigo E nunca te iria esquecer, Nem o que andas a fazer... Ou levando os teus recados! ... Espreitaria cá para baixo, Condenando tudo o que deixo Em solta chuva de tais sonhos, Num mesclado de odores, Arco-íris de tantas flores, Cobrindo todos os campos Um tanto ao rés do meu queixo E tapando qualquer rebaixo... Tal, se eu pudesse voar, Bem alto... e lá do alto sonhar!
Tudo na vida é questionável... até a vida! Ao longo da vida, questionamos a morte, Indagamos a razão da boa e da má sorte, Questionamos na certeza, na contradição E pela qual não entendes a contrapartida, Sempre que levanto alguma interrogação. As dúvidas são o início de qualquer solução, A luz pelo caminho de quem anda perdido, O princípio do fim no seu profundo sentido, O perfeito no meio de qualquer questão!... Nesta tamanha e de quanta imperfeição, Sinto-me perfeito... dono do meu conceito, Na ilusão e no possível meu maior defeito... Ou talvez, em mim, uma pesada confusão. ... Serei mais uma máquina da sociedade, Corroída, comprada, escrupulosa vaidade, Ou tanto ou quanto diferente dos demais... Senão no errado percurso de tantos mais. Nesta interrogação e demasiado pudica, Fica-me a estagnação de mais incertezas, Talvez de uma mente demasiado lúdica E corrompida por outra de mais certezas. À tanta e derrapante filosofia demarcado, Fico-me, na vergonha da sociedade actual, Em parcial esconderijo, meu ninho recatado E para que não seja a tantos outros igual... Porém, quem serei eu, para tal questionar Os porquês do já demasiado interrogado!? ... Serei, talvez, mais um a observar o voar De qualquer pássaro no infinito, planando E desejoso de alcançar o destino do prazer... Neutro ao que neste mundo anda a fazer!
No primeiro dia seguinte Ao último da minha vida, Gostaria de regressar, Senhor da minha ausência, Elaborar uma lista de partida E de quem não partiu comigo, Deixando qualquer amigo Fora de qual penitência De todo o meu anotar, Mas longe de algum limite. Todas as diversas farsas, Teatros de carpideiras, Meigas falas traiçoeiras, Devolveria em farpas E rico de minhas maneiras... Sendo assim tão inocente, No passado e no presente, Não há perdão que aguente, Nem juízo que eu lamente... Seriam lançados à fogueira E, no abençoar das chamas, Condenados da vida inteira!