Se eu fosse podre de rico, seria dono do mundo; Seria, como tantos outros, reles e tanto absurdo!... Assim, nada mais sou que um pobre zé-ninguém, Em risco de estar longe da posse de algum vintém; Mas tenho tudo o que mais quero, porque sou eu Na indiscutível e incontornável superior riqueza... Pobre, na riqueza do nada em que cada um nasceu, Dignidade da passagem pela vida e da franqueza. Serei de mais abastado, enquanto te reconhecer, Percebendo o quanto enriqueces este meu espaço Que é tanto mais teu por direito e por teu abraço Neste reconhecimento que é de meu agradecer... Tantos ciúmes, ganâncias, credos, guerras e ódios, Tantos interesses escondidos em tantos demónios, Camuflados em demasiada falsidade e vicissitude E que, no meio de tal hipocrisia, se chama virtude... Factura em relaxo, por tanto que se anda a fazer! ... Sofro o teu pagar, de quem mais a ficar a sofrer! Num futuro, que será mais próximo à imaginação, Acordaremos, neste sonambulismo, na devastação, Tarde demais para qualquer tipo e tardia reflexão E que o mundo será o apocalipse à nossa dimensão...
Nesta máscara de silêncio, Desfigurada obra de cera, Sinto a renúncia das letras, Numa fuga das palavras, Neste teatro das coisas E no palco, que é meu peito... É o encenar na escuridão Em perpétua luz do dia, Em luzes de solidão, Aperto no coração E no estômago uma agonia, Neste bastidor de melancolias, Argumento em minha mão E escrito, de qualquer jeito, Nalgumas palavras soltas, No silêncio do que me dizias, Muitas vezes sem perceber, Ou sem nada para dizer… Era esta a minha oração, Desta entrega e devoção, Tal meu olhar aos céus Que, de ti, não eram meus, Por estes caminhos, sinuosos, Deveras um tanto manhosos… Mas e estranho, tão nossos! Agora, peço algum descansar, Pois que me doem os ossos, As carnes e tudo mais… Cansado demais para andar, Mas podes continuar a falar! ... E tu, para onde vais? Eu ficarei, por este pesar, Para tudo o que der e vier, Às portas do Lúcifer E à espera que mande entrar… Do Céu, desse nem vou ousar, Tanto é o tempo de espera Na extensa lista da clemência E reclamando inocência... Eu, como sou culpado, Sinto-me um burro chapado Neste grito a que me prenuncio!...
Ouvi o teu chamar, de mansinho, Como se não me quisesses acordar... Pressenti o teu chegar, no silêncio da noite, A qualquer espaço do meu quintal E pouco, ou nada, me importou Nesse chamamento matinal, Não fossem os aplausos dos cães a uivar. Porque me chamaste e te foste embora Sem uma despedida de carinho?... Será que ainda não chegara a minha hora? Tentei-te ver, por entre os estores, Para que não te assustasses, Mas já tinhas partido e tudo se calou... Contigo, coruja, levaste a morte. Desta, olhando a escuridão, escapei... Da próxima, tanto já não sei!
Enquanto existirem poetas, O mundo estará em avanço, Sem barreiras entre metas, Quaisquer fronteiras de aço, Doce esperança e tão certa, Nas palavras de um pateta, Como rosas de meu regaço, Oníricos esboços que traço... Não serei eu, um tal poeta E muito menos qual atleta Desse pódio de maratona; ... Talvez desafinada nota, Mal tocada em corda solta, No corpo de uma sanfona. Enquanto houver o sonho E a sua voz for entendida, Será num poeta tamanho E se a força reconhecida!...
Ventos, de perdido norte, Tórridos arrepios na pele, Gélidos tremores de calor E maneiras que me são peso. São chicotadas que marcam Este corpo, no teu embate, Traçadas marcas de amor, Em silvos secos que matam, Mas nada que tal me farte, Nesse ondular, esculpida arte, Desse teu sopro tão perverso. São ventos, sacudidos ventos, Que me sopram teus segredos E que não posso recontar... Alguns que me fazem corar! ... Mas continua, continua Nessa correria linda e nua, Nesse enrolar muito teu, Pois que gosto tanto dele Neste corpo, sem ser meu...
Neste porco universo, tão filho da puta, Há putas que, comparadas, tanto não são, Se benzidas à tua maquiavélica disfunção... Estendendo a mão, um tanto controverso, Aos demais e quanto mais as exploram... Tanto como tu, que embarcas nessa onda! São usurpadores, proxenetas disfarçados ... E a quem os porcos vão comer à mão, Inqualificável travão ao teu bem-estar; No decorrer da tua vida e dos teus filhos, Serão sôfregos da tua carne e seus ossos, Bebendo do sangue que te vai ao coração... Serão eles, filhos da puta, quem mais engorda Ao prazer de te chupar e contestar a tua luta. ... Porém, sagra, em cada espaço, o teu lugar, Dando o que de melhor puderes, num pensar, Para que nenhuma "puta" te possa apontar Algum dedo ao traseiro... e por teu defeito! Serve quem te serve e os que te alimentam, Dádiva do que de melhor tens, mais perfeito, A este mundo hipócrita, do melhor o reverso, Neste destino e de alguma forma hipotético, Poética ilusão, decerto argumento patético, ... Não nos deixando ser de mais enganados!
Cada dia que vagueia, mais acredito nestes SENHORES, referindo-me a Miguel Torga e Aldous Huxley, no desinteresse dos cidadãos e sua passividade, mas e ao mesmo tempo, de que a democracia é uma ditadura disfarçada, principalmente com os políticos dos tempos que decorrem. Sei que a minha liberdade termina onde começa a dos outros e vice-versa, só não entendo que tipo de democracia vivemos, quando alguém, partido, ou governo, tem a atitude de imposição, não mais sendo que uma ditadura, só que com o nome mais adocicado... No meu pleno direito de ser livre, nada, nem ninguém, tem o direito de me impor que vá votar, seja em Deus, ou no Diabo, ou se vá para onde quer que seja; se querem que eu frequente a igreja, têm, primeiro, de me convencer da existência de um deus, que proteja os meus direitos e não que puxe a brasa à sua sardinha. Se têm medo da falta de interesse no voto, tendência a generalizar-se, façam para que não exista razão para tal, todo o restante fazendo parte de um dever cívico e moral... mas livre e em liberdade! Talvez por essa razão, mas não só, a criação do voto electrónico terá o seu impacto como voto à distância, sem a presença às urnas, mas que, de uma forma, ou de outra, ainda ninguém explicou até que ponto a minha votação não entrará numa base de dados, embora com argumentos já apresentados, mas não provados, ficando registado a minha tendência e respectiva punição futura, pelas mais variadas razões. Repito que a minha liberdade tem um direito... A DE SER LIVRE!
Neste preciso momento, sinto uma raiva profunda, Vontade de explodir, endireitar a minha corcunda, Levantar a minha cabeça, bem acima do horizonte, Atacar de frente e de cornos baixos, como bisonte.
Sinto ódio, o desprezo, vontade de cuspir em tudo E em todos quantos se intrometem à minha volta, Na vontade de arrumar a casa, bater com a porta, Sair para a rua, correria louca, cego, surdo e mudo.
Vontade de vomitar tudo o que tenho no interior, Matéria e quantos os pensamentos que resguardo E sem saber se tal não é prazer, neste meu rancor.
Olho este exterior, neste malogrado desconforto, Como saído de uma sala de cesariana, mal sanado, Mandado janela fora, como mal enjeitado aborto.
Ah, como eu gostaria de voltar... Percorrer os mesmos caminhos! Seleccionar algumas das asneiras E na loucura de outras maneiras... Viveria a mesma vida ao contrário, Como louco e de frente para trás, Acelerada locomotiva a todo o gás, Sem freio, ou predefinidos destinos, Indefinida aventura e bom tempero... Voltaria ao qual lugar desconhecido Que conheço, mas sem o ter visitado... Mas bastava-me um tanto exagero De lá voltar, nesta hora de sonhar! Ah, como eu gostaria de reencontrar Tal passado, num esbugalhado olhar, Sentindo-me, de novo, outro alguém Neste meu e modesto mundo inferior, Na quietude de qualquer zé-ninguém... E tal é minha necessidade em agonia! ... Quem sabe, se talvez voltarei um dia Aos mesmos erros, a tal e mesma dor!? ... Mas voltarei, -sim!-, nalguma remissão De todas as palavras de algum diário E no que de mais alto for meu coração... Nalgum usufruir dos prazeres da vida E tal sabendo que a vida é um prazer! Voltarei, neste meu retorno e decidida Expressão de reconhecimento do saber...