Tanta é a euforia nestes dias... Gritos de vozes cortantes, Destes autênticos figurantes, À boca das vozes metálicas De cansados megafones E sem já poderem mais... Mentirosos até aos dentes, São todos como os demais! São as arruadas, as promessas, Palavras sem sentido e frias, As apresentações de palhaços, Tanto o pobre, como o rico!... Verdadeiros artistas de circo, Representantes de bastidores, Neste encenado teatro de rua E corajosos bem-falantes... Eles próprios, cansados e roucos, Distribuindo beijos e abraços, Fazem figura de loucos... A verdade, é nua e crua! São sementeira de segunda Em terreno que não fecunda... Reles farinha do mesmo saco, Sem mostrarem ponto fraco. De tanta injúria que vejo, Escondo-me nestas reflexões E com tantos elogios praguejo O dia das eleições... De meu dever, convido ao voto, Neste masoquismo devoto!...
Senta-te no silêncio e no silêncio da paz, Absorvendo todo o existente à tua volta, Questionando o que não te sabias capaz E que nesse teu exame tem a sábia nota.
Olha a neblina na distância do teu olhar E tentando perceber a questão do vazio, Entender o quanto a vida é para festejar E o quanto circundante é simples navio...
Seguindo nas turbulências, ou no sossego, Sempre que seu destino lhe é tal possível, Num confronto a quem diz ser impossível.
Mas é luz nesse horizonte perdido ao olhar E sempre que supremo o seja o nosso ego, Nessas gélidas, batidas ondas de alto-mar...
Partes, D. Manuel, nessa tua última viagem... Parte o teu corpo, mas fica a tua eternidade Na consciência e no valor da tua mensagem, No que de melhor deste ao povo... Verdade!
Há estrelas que nunca se dissipam no espaço, São rastos que resistem a qualquer passagem... Serás o samaritano que nunca sentiu cansaço, Ou pudor a quem nunca prestaste vassalagem.
Contigo partirá, simplesmente, toda a matéria, Que muito mais será que um exemplo a seguir... Infelizmente poucos, que atrás de ti hão-de vir.
Como fogoso sangue, circulando numa artéria, Partes, do mundo, deixando o teu dever capaz... Nesta minha singela despedida... Parte em paz!
Nas vezes em que me apetece chorar, Mais é minha entrega numa reflexão... Pondero deitar essas lágrimas ao mar, De demasiadas e salgadas que são... Encher aquilo que já está cheio Olhando em meu redor, Sentir o que na tua mão é pó de fartura, Em mim farinha de pouca dura E pão da eira, cozedura de esplendor, Mistura de milho no melhor centeio. Gostaria de poupar no que esbanjas, Sentando-me a descoberta mesa, De toalha rota, adorno de franjas, Sem qualquer minha defesa E vontade de comer... Nesta minha aguda ponderação, O importante é essa subtil intenção E essa já ninguém a vai deter!
São os velhos sonhos desta velha Europa Que são tanto pesadelos nesta confusão, Entregue nas mãos de moribunda tropa, Numa perdida luta, sem aparente razão.
Ai, velho continente, qual o teu caminho Em tamanhas máculas, sofrer sem alma!? ... Tão estupidamente armado de anjinho, Nesta agonia de paz, dormindo na calma.
Lembrando o sofrimento do teu passado, Acorda dessa profanada obra de santeiro, Benzidas paredes, derretidas no terreiro...
Se procuras, nas trevas, tal futuro desejado, Procura no silêncio o que tanto fores capaz E, na semente da razão, o caminho da paz.
Não me perguntes... Deixa-me ser eu a perguntar! Não me questiones Se te amo nas noites de luar. Não me olhes com esses olhos, Enquanto te estou a observar... Não queiras perceber meus sonhos, Enquanto fixo o teu olhar. Não me tentes perceber, Nem tão-pouco segurar... Não me deixo conhecer Neste verbo de amar. Deixa-me ser esta fera, Este lobo solitário, que há em mim... Deixa-me ser uma quimera, Deixa-me continuar assim. Garimpa esta minha fortuna, Sem saberes a minha riqueza... Procura-me atrás da duna, Lá estarei de certeza. Que mais queres tu saber, Além daquilo que sabes?... Deixa-me, em ti, adormecer, Neste coração em que cabes. ... O resto, são fantasias Perdidas em tantos queixumes... E isso já tu sabias! ... São rosas, são nossos perfumes!
Às vezes, dou comigo a falar com os meus botões, Certo de me sentir enganado, cada dia que nasce, Umas vezes sem saber e outras em minhas razões, À ideia que já ninguém é o que tão pouco parece.
Neste indagar da questão, dúvidas do meu parecer, Interrogo-me a mim próprio, às minhas profundezas, Nalguma estagnação de tanta certeza do meu saber, Aliviando algumas razões, nestas minhas incertezas.
Sinto-me como qualquer nativo esquecido na selva, Que, pensando conhecer os desvios, se deu perdido, No arranho de tantos espinhos, rastejando a relva.
Como não bastasse, de barriga vazia terá de seguir, Tropeçando aqui e acolá, pele mais que rota, ferido, Olhando o distante àquilo que o andou a perseguir.
Nesse teu poder oculto, que desfrutas e sem saberes, Procura ser mandatário dos teus direitos e liberdade, Não te subjugando a políticos, nas diversas falsidades A que te tentam convencer e contradição da verdade.
Entende o quanto és o verdadeiro senhor do mundo, Olhando de lado o que demais te querem fazer crer, De tão maquiavélicas e diversas promessas de fundo, Com todas as artimanhas para derrubar o teu poder.
Acorda à tua capacidade de quanto dono da essência, De seres o verdadeiro Deus, na tua presença suprema, Senhor absoluto, parte da matéria, nessa sua ausência, Absurdo dogma, nessa tua qualidade, que te confirma.
Mas tampouco procures na anarquia qualquer solução, Na busca de encontrar nesse animal, que em ti habita, A força que te é necessária e o esplendor da tua razão, Para que os tais senhores percam essa que é a tua luta.
Sente o sabor de espremer o teu poder nas tuas mãos, Sempre com o olhar na justiça que te tem sido negada, Indagando, ao redor, quantos te seguem como irmãos E fiéis à mesma causa que descuras, mas a ti prendada.
Segue em frente e voltando o corpo à tua retaguarda, Sempre que te for plausível de alimento à tua revolta, Percorrendo o quanto necessário, em tua salvaguarda E libertando, cá para fora, essa fera que se sente solta.