Morreu o líder, o "El Comandante"... O único, o primeiro em cada instante, O homem de cada momento, A proa, o leme, a vela, o mastro, O eterno nome... morreu Fidel Castro! ... Morreu o chefe, a força, o guerreiro, A estrela, rasto de luz, o cometa, O olímpico, na sua derradeira meta; Fica a saudade do mais verdadeiro, Na sua mais controversa convicção... Morreu o herói, mas fica no coração Daqueles que tanto o amavam, Na interrogação de quantos o odiavam. Morreu o corpo, fica o monumento...
Que merda de mundo, que merda de gente é esta, Em que tudo se admite, mesmo no que nada atesta!?... Tudo é exequível, mesmo chafurdando no impossível, Tudo se aceita, toda a merda, mesmo o inconcebível... Foda-se, pois que tudo isto ultrapassa a paciência! Quem sois vós, que me criticam, estúpida ignorância, Comendo em qualquer pia, bosta encefálica às garfadas, Sugando o mijo, divinal leite do mais divinal dos bodes, Em festa popular, soberba música de tambores e fagotes E me chamam de arrogante, ébrios na vossa arrogância? Sim, quem sois, rastejantes seres, narinas espetadas Nas mais fumegantes fragrâncias por vós expelidas?... Vê-se como dormem, noite fora, dias, sem madrugadas, Sedados no maior dos arrotos, em sarcófagos quartos... Sim, que merda de gente é esta, no limite da decência, Que ostentam, no seu corpo, o orgulho de maus tratos!?...
Tão maravilhoso mundo este, Em que todos somos irmãos, De Norte, a Sul, Este, a Oeste, Em serena paz, dando as mãos, Sem descriminação de raça, Sem guerras, mal-entendidos; Toda o mundo tem trabalho, Todos vestem bem, sem vaidade, ... Vai tudo à universidade! Não há políticos, usurários, charlatões, Tão-pouco corruptos vendidos, A constituição defende o povo, ... Já não é nada de novo! Não há teólogos, qualquer crença, ... Tudo, menos desavença! Os idosos e as crianças, são felizes; ... Até os doentes são curados! O homem já não caça, Os animais são bem tratados E, se em alguma coisa eu falho, ... Não é problema, nem tema, ... Desculpas, é nosso lema! Neste mundo de democracia, Somos todos aprendizes... E o que é isso, de ladrões!? ... Honestos, ninguém desconfia! Que mundo este, maravilhosa utopia, Que nem posso acreditar... Simplesmente um sonho, fantasia, Do qual estou a acordar.
Sou, de meu nome, Manuel, Nunes Francisco, de família, Filho da Beira, atrás da serra; A Natureza é a minha bíblia, Num Universo de confrontos, Vida de lutas, sem trincheira, Ladra de sonos, noite inteira, Neste mundo de confusão, Sozinho e tamanha guerra, Sem sentido, nem quartel, Em que todos dizem: não! ... Já não acredito em Deus, Nem nos seus ensinamentos, Só creditando os meus!... É a vida quem mais ensina, Tudo aquilo que sabemos, Pena que, ao chegarmos, ... A partida é nossa sina.
Meu alegre e triste fado, Orgulhoso e comportado, Longe do velho estatuto, Dos becos escuros, do luto, Dos tempos de mal-amado, Por má fama escorraçado... Das disputas de calçada, Do pregão de uma varina, Ficou, da montra enjeitada, Outra montra mais fina... Nesta vida, quem me dera Ser viola, ser arma, ser fera, Saborear, de braço dado, O melhor do melhor fado.
Meu amor, minha alma, Meu soluço ao anoitecer, Minha força, minha calma, Minha luz ao Sol nascer, Meu corpo, meu reviver, Minha vida, minha morte, Meu momento de sorte, Lembrança ao estremecer. E em recompensa sagrada, Serei tudo, não serei nada, ... Doce paz, dura luta, Meigo, filho da puta, Deitado em qualquer cama, Em lençóis cheios de lama, Banhado em pouca sorte, Será esta a minha morte... O meu destino, triste fado!
Fado, fadista, meu fado, Tão boémio quanto eu, Num bairro desta cidade, Numa viela qualquer, À mesa de bem regado, Para o que der e vier; Ao som de uma guitarra, Num coração desfeito, Tanto de amor e maldade, Em altiva voz de garra, Expelida força do peito, Força que deus lhe deu. E no fado desta Lisboa, Fica saudade ao ouvir... Melodia que mais entoa, A quem um dia partir.
O malvado relógio não pára... Para a frente segue o futuro, Por muito que não se queira, Ou mesmo que nos seja duro E se o tempo tão-pouco sara, Será simplesmente asneira Não entender a romagem... Sejam dores, sejam virtudes, Neste universo de atitudes, Num presente de passagem, O relógio segue em frente, Num passado à sua margem, Sem piedade de quem sente, Nem nos prestar vassalagem...
Por entre tantas e demais pervertidas guerras, Escombros, infantes mortes fora de trincheiras, Quantas mães, quantas mulheres, já choraram, Quantos homens ficaram sós, ou despedaçados, Em prisões, torturados, despojados, refugiados, Enquanto outros, na sua ganância, se banham Em riquezas... lágrimas, sangue de tantos mais? De olhos sofridos e em tão grandes tormentos, Todos se esquecem de quem tanto já sofreu Em todas essas guerras, bombardeamentos, De quem lhes era querido e também morreu. Quantas outras tantas almas se perderam, Daqueles que nunca ousámos perceber E, por essa mesma razão, pouco importa, No nosso sereno conforto, algum parecer E por quem nunca se deu quaisquer ais, Na severa interrogação de tanta morte, Pura e simplesmente entregues à sorte E eis que de momento lhes bate à porta?... São eles, os chacais de tamanhas carnificinas, A culpa deste ódio, que tanto orquestraram E da putrefacta carne que tanto os alimentou, Sem dó nem piedade, de quantos já morreram E pelos quais outros tantos mais se vingam... Acordem pois, para que tudo possa mudar E que cada mártir, que já outrora chorou, Não sinta vício na vontade de agora matar, Pois que se alguém tem, outro já teve irmão E outro tanto chorou, quando seu filho partiu; ... Só que esse e tal sofrimento, ninguém viu! Pobre e tacanho mundo este, que tanto chora Como malfadada criança, perdida e implora, No tormento dos seus e já desfeitos sonhos, No afogo de tão bem manipulados contos, Em que só os outros são maus, terroristas, Na sombra de quem igual a eles o são, Em camuflados movimentos e corrupção... Que crueldade, arrogância, hipócrita ilusão! Assim, enquanto esses senhores da guerra, Os culpados, os impunes, subirem ao pódio, Eu gritarei alto, do alto de qualquer serra, Tudo o que me vai na alma, sofrido... o ódio!
No recordar da mais bela grafia, Num recorte de lente, fotografia, No agarrar uma câmara e partir, Buscando a tal imagem, um sorrir Na mais perfeita das fotografias, Como se a mais bela das poesias... E nessa mistura de sentimentos, No mais belo de qualquer olhar, No soberbo encanto do disparar, Procuram-se sabores de fantasia, Em suave deslizar de doutrinas, Em disputa conversa de mágoas, Em colorida e perpétua sinfonia, Júbilo de festa, ou de lamentos, Tudo em latente e tal confusão, Qual suprema seja a desilusão... Se a fotografia é quem mais fala, Numa imagem de mil palavras, Em oráculos que ninguém cala, És tu, caneta, quem mais lavras...