14 de Fevereiro de 2016 - francisfotopoesiaeimagem

FAÇO ANOS

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FAÇO ANOS

Hoje, lembrei-me, ao acaso, que faço anos,
Não sei quantos, mas já são uns tantos...
Bom, pensando bem, não são tantos assim,
Mas já são alguns... demasiados para mim.

São tantos, que já alimentam algum saber
E sinto-me bem nesta viagem a que cheguei,
...Algo desiludido, cansado de algum sofrer,
Mas recordando tudo ao que me entreguei.

Hoje, como prenda, queria viajar no tempo,
Fazer uma longa viagem ao futuro, é claro!...
Pois do passado já conheço cada momento.

Ao regressar, viria misturado com o vento,
Trazendo somente o que me fosse mais raro,
...Deixando para trás alguns anos deste corpo.

ESTE NATAL

Beijo-te, menina do meu natal,
Recebo-te em prenda de chocolate,
Ofereço-me em conjunto de cabaz,
Querendo dar-te o que não serei capaz.
Quero sentir-te minha guloseima
Durante esta noite, minha consoada,
Saborear teu corpo no maior deleite,
Beber esperança, sair desta teima,
Sentir-te comigo, em palhas deitada.
Neste dia, queria tudo...menos igual.

ESTAÇÕES DA VIDA

Sigo meu caminho, na primavera da vida,
Na ilusão de algum jardim, em existência esquecido,
Quando dou por mim, num afronto desatino,
Morrendo de esperanças, de verão como destino,
Flores murchas, secas ao sol, cor de agonia,
Tanto via, em frente, enorme melancolia.
Em passos largos,sem perder tempo, pois sou eu o perdido,
Quero encontrar outro outono, numa qualquer árvore despida,
Em suas tristes e ocres cores, em sua forte despedida,
Folhas esvoaçando ao vento, soltas, em atmosfera ferida,
Em trilhos húmidos e frios, de seu destino inverno,
De um celeste colorido, a um desconforto inferno.
Em subtil andamento, olho à volta, resignado,
Fico triste, acanhado, perdido, de louco revoltado
E sento-me numa qualquer pedra, ali bem perto,
Sem saber que mais pensar, mais morto, que desperto
E sinto aquele nó, bem cá no fundo...
Acho que vou gritar, em aberto: que merda de mundo!

ENCONTROS

Parto, quer faça sol, frio, chuva, ou vento,
Ao teu encontro, na esperança de um novo invento,
Como se nada mais interessasse à minha volta, tal o teu encanto,
Embora conhecedor de algum caminho, que sigo, em desalento,
Mas lá avanço, resoluto, crente, firme e audaz
Em frente, ora baixo, ora erguido, sem olhar para trás,
Ao teu encontro...
Por fim, lá me revejo, contigo e em ti, a teu lado,
Em teus braços, beijos, ternuras, em teu corpo, em delícias,
Em teu jeito, teus jogos, tuas malícias
E ali fico, perdido e, mais que tudo, encontrado,
Tanto por ti, talvez mais por mim...sinto-me outro!
...Depois, numa nova separação, ambos partimos,
Corações feridos, em nova esperança,
Mundos diferentes, cada um para seu lado, tu, nessa andança,
Eu, ora baixo, ora erguido, lá parto, como há muito decidimos...

ELEIÇÕES

Eis que chega, como tantas outras, novo engodo de eleições
E lá vão eles, arrogantes, papo cheio, soletrando palavrões...
Não são todos, mas muito mais que muitos, demasiados,
Tudo tirando da cartola, coelhos e outras magias de mentiras
E este povo de Camões lá vai, calmo e sereno nos seus vícios;
Nada sabe, salvo o resultado de todos os jogos de qualquer liga,
...Se duvidam, perguntem-lhes, para não ser eu que o diga!...
Pobres seres enlatados, cuspidos, esquecidos e espezinhados,
Conduzidos ao matadouro, sem solução, no maior dos artifícios,
...Serão eles, os enganados, quando nada mais restar, nas suas iras,
Que deitarão por terra todos esses alquimistas de trazer por casa
E que farão, das ruas, o maior braseiro da mais pequenina brasa...
Que se protejam aqueles que não dormiram e culpas não tiveram,
Pois que pagarão, como tantos outros, pelo que outros fizeram...

DESPEDIDA

Tão alegre e contente, finalmente chegou
E muito apressada, nua e braços abertos,
Ela que sempre tanto me amou e desejou,
Reclama agora estes derradeiros afectos.

Eis que me rodeia, numa dança de desejo
E me leva a partir, em orquestral sinfonia,
Me convida em movimentos, doce cortejo,
Me mostra o caminho, numa doce melodia.

Ela, pura, tão meiga, ditando minha sorte,
Louca me abraça, nesta nossa despedida
E tão rápida me leva, levando-me à razão.

Aqui estou, nesta hora, nesta minha partida,
Neste tão suave enlace, de alma e coração
Beijando esta fiel e amiga...chamada morte.

DESERTO DA VIDA

Pouco, ou nada, me importa, o que pensam de mim,
Nasci assim, firme, sou assim, sempre serei assim...
Não nasci filho de, mas sei que nasci filho da puta,
Neste sempre genuíno orgulho, vontade de ir à luta.

No deserto da vida, cada um de nós segue sozinho,
Não que me queixe, pois escolhi eu o meu caminho,
Mas sei que todo o mundo se afasta e nos repulsa,
Numa hipócrita cruzada e falsa verdade que nos usa.

São os amigos que nos tentam a busca nos inimigos
E os inimigos que nos alertam no perigo dos amigos,
Mas todos nos deixam presos a um princípio destino,
Mesmo para quem teve só doces sonhos em menino.

Deixem perceber a doce crueldade que vos circunda,
Essas ilusórias e poéticas sombras que vos fecunda,
Pois que tudo não passa de veneno que vos sustenta,
No mais genuíno e fortificante pasto que vos alimenta.

No deserto da vida, frágil é o destino que nos aguarda,
Num passo a passo, cada vez mais cansados da vida,
Aquela que mais ninguém quer, ou tão pouco conhecer,
Pois é única e a nós pertence...enquanto nos pertencer.

CORPOS AO SOL

Já em sol de meio-dia, estrada adiante, tarde se fazia,
Em destino de areia e ondas, em peripécias escondidos,
Como se algo de estranho, ou outro mais, nos procurasse,
Desafiando nossos destinos, em ocultos, mas abertos medos,
Em paragem de alguma tristeza e agonia,
Lá seguimos, sem que nada mais nos preocupasse.
...Deitados, esvoaçando gaivotas, batiam as ondas, outros chegavam
E nós, enrolados na areia, nada nos importava...mesmo nada!
Mesmo que nos olhassem, quando por nós passavam,
Tamanho era nosso desejo, em luxúria desatinada.
...E o tempo passava, pois que o sol seguia o seu poente
E nós, sentados, olhando a linha do horizonte,
Em corpos de areia, algo bronzeados, sacudidos ao vento,
Tentando esquecer o fim de tão nobre sentimento.

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