Esta manhã, acordei sobressaltado, Suado, num enorme pesadelo... O mundo tinha paz global E eu já não estou habituado!... Talvez que por meu desmazelo, Ou que tudo esteja cabal!... Sonhei a morte de quantos parasitas, Usurários, corruptos e proxenetas, Políticos a ferro e fogo, Falcões de armas em sangue, Mortos pelas próprias metralhas, Naquela sentença de meu rogo, Estampado em rosto exangue, Num universo de quantas falhas!... Hoje, foi uma noite sem perdão, Sono perdido, na maior exaustão... Pensamentos de extensa escuridão, Num negro poço de combustão!...
Como somos falsos, no nosso ostracismo, Abrindo os braços a quantos odiamos E fechando-os, num abraço de egoísmo, Vertendo lágrimas por quem não choramos!... Perdoamos, no espelho de pecados ocultos, Os quais não temos a coragem de divulgar, Na arrogância, vendo os demais como vultos E sabendo nós igual caminho para lá chegar... Somos mesquinhos, suados de banalidades, Batendo de porta em porta, oferecendo esmola, A quantos por quem nunca tivemos saudades, Por tanto que os víssemos de miserável sacola... Que nos importaria isso, no nosso bem-estar?... E por tais caminhos seguimos, pela vida, Essa nossa e única, pela qual iremos lutar, Mesmo que ninguém a tenha por definida!... Que mais nos questiona, senão a nossa, Pois não passamos de uns reles e falsos, Calcando por cima de tudo e todos, sem mossa... Que nos importa isso e de seus percalços?!... Estranho mundo este, de falsidades, Arquitectado e construído por todos nós, Desenhado nas mais convencidas vaidades E nunca dando pontos sem nós!... Estranha forma de vida esta, manipulada, Montada de beijos e abraços, tal argamassa, Estruturas ferrugentas, obra envidraçada, Por entre ressequida argila demais devassa!... Como somos falsos, crentes na dimensão, Aquela que tanto dizemos possuir, Nessa nossa venda, por tamanha presunção E que, em nós próprios, nos deixamos iludir!...
Levantei-me, caminhei e olhei à janela, Tais pardas nuvens e que se enrolavam, Umas aves, as quais ao longe dançavam E eu sonhando liberdade a toda a sela!...
Imaginei vívidas cores num sol-poente, Pinturas, pelas mais soberbas aguarelas E desenhando nova imagem do levante, Por viagens, sob tecto azul e de estrelas...
Pela paisagem, ouvindo o vento a zumbir, Árvores sacudidas pela força da natureza... Acordado, em sonhos de jamais sucumbir!...
Puxei a companheira cadeira e sentei-me, Inventando estradas de futuro e incerteza... Fechei as pálpebras, sonhei e recostei-me!...